Que bom que você veio!

A criação deste blog deve-se ao fato de gostar muito de artesanato e amar muuuito os animais.A intenção é fazer parte do grupo de pessoas que vieram a esse Planeta proteger seus semelhantes peludos,penosos,cascudos, escamosos como também os irmãos folhudos e enraizados, da ira insana dos"outros" irmãos ditos racionais mas que ainda não perceberam que somos todos filhos do Universo, irmãos das Estrelas e Astros , que merecemos igual qualidade de vida enquanto estivermos aqui.Obrigada pela visita! Volte sempre e espero que quando voltar tenha motivos para lutar mais, sorrir mais e amar mais. Um grande abraço!

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A MOÇA DE VERMELHO



Hoje mais cedo tive que acompanhar meu filho em um compromisso de trabalho. Digo "tive" porque, como mãe, "tenho" (o mais certo talvez fosse dizer "preciso"...) que ajudar sempre que possível, mesmo que seja sendo co-piloto em um local estranho, quando o GPS do carro dele está com mal-funcionamento. Decorei o trajeto no Google Maps e hoje saímos às 6 da manhã, com destino a um bairro chique de São Paulo, bem distante da nossa amada e periférica Penha.

Levei água, crochê prá distrair as mãos e a cabeça, biscoitinho.

Os dois estacionamentos onde tentamos deixar o carro não permitiam que eu ficasse nele - política do local, para prevenir furtos...

Não havia um shopping por perto onde eu pudesse passar o tempo, então o jeito foi estacionar em uma enorme e linda praça que ficava um pouco antes, bem arborizada. 

Detalhe: haviam 3 garotas de programa desfilando pela praça - já naquele horário. Com vinte e poucos anos de idade, trajavam curtos vestidos vermelhos, um liso, os outros estampados de flor. Cabelos pintados de louro bem amarelo (acho que os homens devem mesmo preferir as louras...), com suas bolsas à tiracolo, fazendo charme para os motoristas que contornavam a praça.

O local era extremamente bonito, cercado de belas casas (mansões, na verdade!) - o último local que você imaginaria palco desse tipo de coisa.

Meu filho ficou receoso de me deixar ali, sozinha, em um ambiente daqueles. Pensou em remarcar o compromisso, voltar outro dia sozinho. Garanti a ele que estava tudo bem, que podia ir tranquilo, que elas só estavam cuidando de seus assuntos e que tudo ficaria bem comigo. 

Mas, no fundo - bem no fundo mesmo - aflorando sem ser chamado, estava o meupreconceito. Eu fazia meu crochê com os olhos vesgos, um na linha, outro rodando da janela ao retrovisor, ao espelho lateral e de volta prá janela, acompanhando todos os passos delas...

Realmente elas estavam a cuidar das próprias vidas, conversando, rindo, fazendo charme. 

Durante mais de duas horas, crochetei minha rendinha, bebi água, vigiei a rua...

Até que, aparentemente saída de lugar nenhum, a moça com o vestido vermelho liso me pegou desprevenida: num momento de distração de minha parte, eis que ela surge - 1,5 m de distância da minha janela, perto o suficiente para ser ouvida, longe o bastante para não invadir demais minha privacidade - e me diz, com uma doçura inesperada, que o local onde eu estava estacionada era proibido estacionar e que eu iria ser multada. Disse que, na semana passada, todos os carros em redor da praça haviam sido multados e que o DSV passava duas, três vezes por dia prá multar. Sorriu prá mim um sorriso meio envergonhado, meigo de doer o coração. Bebeu um gole de água da garrafinha pet que trazia na mão (que, com certeza devia estar morna) e, se queixando do sol e do calor, me disse tchau.

Senti tanta vergonha... Vergonha de mim. Ela ali, vivendo a vida dela (que, com certeza, não deve ser fácil, independente de ser escolha dela ou imposição das circunstâncias...) achou tempo, em meio ao calorão que fazia e gentileza, em meio às rudezas que ela deve receber do mundo, prá me alertar de um perigo bobo como uma multa... Eu, ali, aparentemente vivendo a minha vida, na verdade trabalhando gratuitamente como juíza do mundo, sem salário, 13º nem férias, sendo surpreendida por uma gentileza de onde menos eu esperava.

Ali sentada no carro, lembrei da primeira pessoa para quem Jesus apareceu quando ressuscitou  no 3º dia. Não foi visitar sua amada mãezinha, nem seus amigos e discípulos: mostrou-se, pleno de luz e de vida, a uma ex-prostituta!

Uma mulher mal vista pela sociedade, mas que (enquanto seus discípulos se escondiam, face ao medo de lhes acontecer o mesmo que acontecera ao seu mestre) se mostrou publicamente sua seguidora, indo preparar-lhe o corpo para o devido sepultamento, segundo os rituais da época. Mulher de coragem - acima de tudo - que, retirada do fundo do poço pela fé, "foi e não pecou mais"...

Envergonhada, pedi mais uma vez perdão e rezei por aquela meiga menina, que soube se preocupar e ser gentil com uma mera estranha: que Deus lhe desse um bom caminho pela frente.

E aproveitei a oportunidade e rezei também por mim: que Deus me dê ainda muitos anos de vida, pois ainda estou muito longe de quem eu quero ser e ainda tenho muito que aprender...

(Imagem da artista australiana Cindy Lane

Nenhum comentário:

Postar um comentário